Passado digital

Por 30 anos, a Carriço Filmes documentou, ininterruptamente, os principais eventos ocorridos em Juiz de Fora e região, construindo um verdadeiro tesouro tanto em relação à memória da cidade quanto ao nascimento do próprio cinema brasileiro. Iniciando as comemorações pelos 50 anos de morte do cineasta João Carriço, a Cinemateca Brasileira digitalizou oito cinejornais produzidos pelo juizforano nas décadas de 30 e 40. O conteúdo foi entregue à Funalfa em um DVD, o que vai facilitar o acesso da população em geral ao material.

A entidade, aliás, tem planos de dar prosseguimento ao trabalho, através de um projeto de digitalização dos 236 cinejornais que Carriço produziu. Para viabilizar essa idéia, a Prefeitura incluiu no orçamento 2009 recursos da ordem de R$ 120 mil. No entanto, o superintendente da fundação, Toninho Dutra, pondera que se trata apenas de uma previsão. “Por enquanto, o orçamento ainda é uma peça de ficção. Mas já é um passo muito positivo incluir esse projeto, pode servir mesmo como uma propaganda.”
Com cerca de dez minutos de duração cada, os cinejornais trazem registros de uma série de eventos políticos e sociais na cidade, como o carnaval de 1941, as eleições de 1945, a inauguração da estrada entre Juiz de Fora e Monte Verde e uma corrida de bicicletas organizada pelo Cicle Clube.
Tecnologia para preservar
De acordo com o chefe da Divisão de Memória da Funalfa, Nilo Araujo Campos, além de ser um formato mais seguro para a conservação e mais simples para ser reproduzido, o DVD permite um ganho considerável na qualidade das imagens. Realizados originalmente em formato 35mm, 125 cinejornais da Carriço Filmes foram transpostos para o formato VHS na década de 90, em uma primeira tentativa de facilitar o acesso do público ao material. No entanto, o suporte sofreu o desgaste do tempo, com perda de qualidade e definição.
Segundo Campos, a intenção do projeto de digitalização seria resgatar não só filmes já existentes no acervo, mas também os outros 111 que ainda não foram transpostos. Já o conteúdo do DVD gravado pela Cinemateca Brasileira, deve ser incluído na programação de projetos da Funalfa, como o Cinema Para Todos.
Memória da sétima arte
Pesquisadora da obra de João Carriço, Martha Sirimarco acredita que a digitalização do acervo implicará em um ganho não só para a memória local, mas para o próprio cinema nacional. “Desde que começou a produzir filmes, Carriço já dominava totalmente a técnica cinematográfica. Além disso, ele sempre fez tudo muito bem feito, foi ao Rio de Janeiro buscar os melhores cinegrafistas e contratava os locutores de maior prestígio. Ele não fazia cinema por hobby, era profissional”, comenta.
Martha lembra, ainda, que a relevância das produções da Carriço Filmes não se restringem a Juiz de Fora, uma vez que ele registrou acontecimentos importantes em Petrópolis, Belo Horizonte e até no estado do Mato Grosso. “Carriço filmou por 30 anos sem parar. Nenhum outro cinejornalista daquela época conseguiu essa façanha”, destaca.
(Jornal Tribuna de Minas, 30 de dezembro de 2008)

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